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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
É minha fé na Bíblia que me serviu de guia em minha vida moral e literária. Quanto mais a civilização avance, mais será empregada a Bíblia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Assalto ao carro pagador do IPEG


Assalto ao carro pagador do IPEG
                                                
A Previdência do Estado é parte da história da cidade do Rio de Janeiro não é de hoje. Com seus 120 anos de existência pagando pensões e aposentadorias. Hoje essa função é atribuição do Rioprevidência, autarquia estadual responsável por essa atividade e herdeira de muitas histórias. Este artigo destaca um episódio pouco divulgado que envolve o IPEG – Instituto de Previdência do Estado da Guanabara e um tema bastante discutido neste momento, conhecido como: os anos de chumbo, anos rebeldes ou simplesmente como ditadura militar no Brasil. O ano de 1968 foi marcado pela intensificação dos protestos e a imediata repressão do governo militar.
Desde o início da Ditadura Militar em 1964, o governo fazia uso dos Atos Institucionais, com peso de leis, para conseguir se mantiver no poder. O Ato Institucional Nº. 5, o AI-5 foi o golpe mais duro dos Militares, pois com ele o Presidente assumia todos os poderes, podendo decretar o recesso do Congresso Nacional, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos parlamentares, suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão, decretar confisco dos bens considerados ilícitos e suspender a garantia do habeas-corpus.
            A cidade do Rio de Janeiro, em 1968 atravessava um processo de transformação política, e grande agitação acontecia por todos os lugares. Além das mudanças no regime político a cidade havia acabado de sofrer um golpe em sua estima: deixara de ser a capital federal, o que acarretou mudanças administrativas na estrutura de estado e a insatisfação da população em relação à perda de status, sai à capital federal e entra o estado da Guanabara.
O Instituto Previdência do Estado da Guanabara estava sob o comando do então presidente João de Lima Pádua, tinha como rotina administrativa efetuar os pagamentos nas agências do Instituto, e em espécie.  Havia uma publicação dos funcionários, e as agências que receberiam o pagamento.  Esta publicação era feita através do jornal de grande circulação, na última página, relacionando os nomes dos funcionários, com as agências e data deste pagamento.
Para falarmos do assalto ocorrido no IPEG em 13 de Novembro de 1968, foi preciso voltar 43 anos aproximadamente, e buscar pessoas que pudesse relatar com o máximo de detalhes o que de fato aconteceu, realizando pesquisas em jornais e revistas da época, encontramos um artigo que nos chamou atenção, “O carro pagador do IPEG". 
O artigo narrava o assalto, porém da ótica de um participante, “O carro pagador do IPEG” escrito por Sergio Granja, nos proporcionou uma proximidade, com o evento ocorrido no IPEG.   O autor apresenta como justificativa para o assalto descontentamento política, e com esse discurso o assalto foi planejado e articulado pelo Comitê Secundarista do PCB que era parte integrante do grupo de Carlos Marighela.
Para compreender melhor o cenário do Rio de Janeiro em 1968 utilizei como fonte o jornal a Folha de São Paulo, que publicou no dia seguinte (14 e 15 de novembro de 1968) ao assalto uma matéria informando o ocorrido.  Também foi utilizada A Revista Veja na edição nº. 11 de 20/11/1968, narra os fatos acontecidos no Brasil como uma grande novela de televisão, mas com roteiro bastante confuso.
Em 90% da matéria, da Revista Veja, que foi uma edição especial sobre o Marighela, era a narrativa das ações terroristas e as ações do governo para tentar combater e acabar com organizações contra a ditadura.  A Revista Veja online edição nº 11, publicação de 20 de novembro de 1968, ressaltarmos que os rendimentos destas ações terroristas chegavam a 1 milhão de cruzeiros novos.
Levando em consideração as fontes, a Folha de São Paulo (acervo digital da Folha de São Paulo http://acervo.folha.com.br/fsp/1968/11/15/2/5411999) e a Revista Veja (online edição nº 11, publicação de 20 de novembro de 1968), os Artigos de Sergio Granja foram de grande valia para compreendermos melhor esse assalto. 
Na Folha de São Paulo havia um panorama do que o grupo de Marighela realizou, e explicou que o Rio de Janeiro assim como São Paulo vinha sofrendo ataques “terroristas” do comunista.  A idéia de terrorismo para o Brasil ainda era muito nova e difícil de ser compreendido.
Na tentativa de compreender melhor o real significado de Terrorismo dicionário consultamos Aurélio o real significado de terrorismo é definido como uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de atemorizar um povo e enfraquecer sua resistência.  Entre os atos mais comuns de terrorismo estão o assassinato, o bombardeio e o seqüestro.
O assalto ao carro pagador do IPEG não se tratou de um evento isolado de violência, e sim um evento planejado com antecedência que fazia parte de uma seqüência de eventos com o mesmo perfil.  O grupo responsável pelo assalto e a serie de ações “terrorista” que seguiram no Brasil, não se declara terroristas e sim guerrilheiros. 
*Dentro deste cenário, o Brasil, sofria com diversos ataques, levantes, revoltas, todas essas manifestações causam confusão quando há a necessidade de definir quem é quem na historia, ou pior, quando procuramos achar os mocinho e os bandidos.
Com a intenção de procurar usar o termo correto dos personagens desta nossa historia, pesquisamos algumas definições como guerrilheiro urbano, que segundo os pesquisadores do assunto, trata se do homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais, revolucionário político e um patriota ardente. Ele é um lutador pela libertação de seu país, um amigo de sua gente e da liberdade.
Muitas vezes assaltos pelos delinqüentes são interpretados como ações de guerrilheiros. 
O guerrilheiro urbano segue uma meta política e somente ataca o governo, os grandes capitalistas, os imperialistas e todos que utilizam idéias ditatórias.   De acordo como o manual de guerrilha, o guerrilheiro urbano não teme desmantelar ou destruir o presente sistema econômico, político e social brasileiro, já que sua meta é ajudar ao guerrilheiro rural e colaborar para a criação de um sistema totalmente novo e uma estrutura revolucionária social e política, com as massas armadas no poder.  O guerrilheiro urbano tem que ter um mínimo de entendimento político.
O terrorismo político é utilizado para conquistar ou conservar o poder.    
Narrar o assalto ao carro pagador do IPEG com auxilio do depoimento e relato do Autor Sergio Granja, o assalto ocorreu da seguinte forma:
No dia 14 de novembro de 1968, jovens integrantes do GTA (Grupo Tático Armado de SP) do Rio de janeiro participariam três companheiros: Barba, Poeta e Sergio.  Os dois primeiros ficariam no carro de cobertura; e Sergio faria dupla com Marquito (Primeiro Grupo Tático Armado RJ (GTA), chefiado por Marco Antônio Braz de Carvalho), o comandante da ação.
Todas as informações foram passadas na manhã do atentado para o grupo.   Todos os jovens do grupo de Marighela foram até a agência do Méier, Havia um PM guardando a fila e outro dentro da agência.  A ação começou com a chegada do carro pagador. O Sergio tinha como tarefa dar cobertura ao Marquito, que deu uma banda no PM que guardava a fila.  Segundo o texto o guarda era grandalhão, mas caiu de costas na calçada.  Com o impacto do tombo, o capacete dele saiu, e o revólver foi para outro lado.  O guarda esticou o braço, tentando alcançar a arma no chão, Sergio impediu com uma coronhada no couro cabeludo dele, o PM desmaiou.  Sergio relatou que, no dia do assalto estava muito tenso, era a primeira vez que participava de uma ação armada.
Marquito, mais experiente e comedido, comentou que eu não precisava bater com tanta força na cabeça dos outros.
O Grupo já com a posse do dinheiro do IPEG percebeu a aproximação da policia civis, que efetuava disparos em sua direção, efetuaram fuga com o próprio carro pagador do IPEG e foram perseguidos. O grupo nem entro na agencia do IPEG, todo o evento ocorreu do lado de fora, da agencia, sem dar chance do Guarda que estava dentro da agencia reagi.
O grupo não utilizou à metralhadora, que tomou do guarda que foi rendido, porque o companheiro que a portava foi ferido no braço direito.  Mas conseguimos arrancar com o carro pagador, deixando a polícia para trás.
Numa esquina erma, dois jovens do grupo de Marighela desceram do carro forte do IPEG.  Caminharam um pouco e tomamos um táxi para a Praça XV.  Um dos Jovens carregava uma sacola com a metralhadora.  O rádio do táxi anunciou o assalto ao carro do IPEG.  E mais: informou que os assaltantes fugiam com o dinheiro em direção à Praça XV, que somava R$ 120.000,00 cruzeiros novos o que corresponde hoje a uma quantia de entorno de R$ 500.000,00.   No banco traseiro, os dois Jovens se olharam,  pagaram a corrida e saíram do táxi.  Autor informa: os dois se separam ali.


À tarde, um sargento reformado da Polícia Militar reconheceu o carro receptador do dinheiro expropriado num posto de gasolina. Avisados pelo sargento, policiais prenderam o motorista. Submetido à tortura (surra e pau-de-arara, o padrão policial do Brasil desde a época Vargas – Nota do Editor), o jovem abriu informações, inclusive a de que pouco antes havia se separado de Marighela, comandante da ação contra o carro do IPEG. Em face da ausência do motorista no ponto combinado, Marighela correu para o aparelho na pedra de Guaratiba e ainda teve tempo de levar o dinheiro confiscado. Mas o segredo sobre a autoria das ações deixou de existir. Jornais e revistas publicaram longas matérias a respeito do líder comunista e chefe dos assaltos até então indecifráveis. Em todas as bancas, a capa da revista Veja exibia o rosto do famoso revolucionário. Os Órgãos da repressão policial fazem dele o inimigo público número um.
O assalto foi imediatamente anunciado por todos os meios de comunicação, e foi tratado como um ato de terror vinculado aos eventos do grupo de Carlos Marighela.
No dia seguinte todos os jornais e revista publicaram sobre o assalto, já com afirmações sobre a ligação do evento com o movimento comunista no Brasil.
Ocorreram varia versões para o fato, chegaram a noticiar que o próprio Marighela esta na ação. Um jornal de credibilidade afirmou no dia seguinte ao assalto, que havia uma funcionaria envolvida na elaboração do assalto, chegando a até vincular o nome Maria Magalhães Montepio Bezerra com a funcionária envolvida.  Seu filho Monteiro Bezerra, ainda estudante, foi detido, sendo acusado de ser um dos participantes.
Pesquisando o quadro de funcionários da instituição, não foi encontrada nenhuma funcionaria com este nome.
Outras noticias sobre o assalto fora vinculadas a mídia, deixando a população cada vez mais insegura, no livro Combate nas Trevas, da Editora Ática, 5ª edição revista, o autor traz novas informações  que embaralham cada vez mais a população.  O Livro traz ...

“Ainda em 1968, uma equipe da ALN percorre regiões do interior e procede ao levantamento de locais adequados para áreas estratégicas e pontos de apoio das projetadas colunas guerrilheiras. Elementos da primeira turma treinada em Cuba regressam ao Brasil e difundem o que aprenderam sobre o emprego de armas e explosivos e técnicas de combate. Aparentemente, há expansão e fortalecimento”.
“O mistério sobre os assaltos de novo estilo se acaba a 13 de novembro de 1968”  “Na manhã deste dia, num subúrbio carioca, o carro pagador do Instituto de Previdência do Estado da Guanabara (IPEG) foi interceptado por três homens armados, que se apoderaram de 120 mil cruzeiros novos. À tarde, um sargento reformado da Polícia Militar reconheceu o carro receptador do dinheiro expropriado num posto de gasolina. Avisados pelo sargento, policiais prenderam o motorista. Submetido à tortura, o jovem abriu informações, inclusive a de que pouco antes havia se separado de Marighella, comandante da ação contra o carro do IPEG. Em face da ausência do motorista no ponto combinado, Marighella correu para o aparelho na Pedra de Guaratiba e ainda teve tempo de levar o dinheiro confiscado. Mas o segredo sobre a autoria das ações deixou de existir. Jornais e revistas publicaram longas matérias a respeito do líder comunista e chefe dos assaltos até então indecifráveis. Em todas as bancas, a capa da revista Veja exibia o rosto do famoso revolucionário. Os órgãos de repressão policial fazem dele o inimigo público número um.”
“Os incidentes azarados do assalto ao carro pagador do IPEG se concluíram com um episódio trágico. De retorno para S. Paulo, dois participantes da ação – o casal João Antônio Abi-Eçab e Catarina Helena Xavier Ferreira – morreram à noite, na colisão de seu carro com um caminhão, próximo a Vassouras. Na bagagem do casal, a Polícia encontrou uma metralhadora e pentes de balas.”...
O Governo Militar no Brasil teve como características, métodos violentos, inclusive tortura, contra os opositores ao regime, censura aos meios de comunicação, repressão aos movimentos sociais e manifestações de oposição.  E os opositores, os jovens, em sua maioria, respondia a essa repressão com truculência, violência e nervosismo, resultado da imaturidade e inexperiência para realizações das contravenções adotadas pelo grupo opositor ao governo do Brasil. Essas características ficam claras no texto de Sergio Granja (http://www.socialismo.org.br/portal/contos/1314-o-carro-pagador-do-ipeg), deixando evidente o despreparo dos integrantes de grupos opositores.  Esse despreparo acredito que pode ser justificado pelo fato do movimento contrario ao governo brasileiro ser em 80% realizado por estudantes, com jovens entorno dos 16 anos e de classe media, como o caso de uma de nossas fontes.    O despreparo que menciono no texto, vem do resultado da pouca idade, insatisfação política, ausência de informações sobre o destino do país, agitação política e repressão severa, obrigando a movimento a reagir.  O contexto político e social da época favoreceu muito toda essa agitação, dando espaço para revolta de jovens que inicialmente não tinha o objetivo de se “transformarem” em marginais, porém na tentativa de combater essas manifestações, o governo do Brasil, revelou verdadeiros monstros, que circulavam e praticavam atos terríveis contra a população e com os jovens envolvidos com questões políticas, ações de experimentos monstruosas e surreal.
Por outro lado, podemos perceber certa ingenuidade da época, quando o IPEG publica no jornal, os locais e hora dos pagamentos, o que permitiu o planejamento de toda a ação do grupo de Marighela.


Continua.....





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